Pesquisa personalizada

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Sotaque Cultural

A seguir uma entrevista com o professor Nelson Viana, apresentando sua tese sobre Sotaque Cultural.


2 comentários:

  1. Eu sou Holandês e morei na Inglaterra por um ano. Eu falo Inglês fluentemente. Os britânicos cumprimentam os outros com ‘Are you all right? ’ (Você vai bem?) Que me deu a ideia de que alguma coisa não estava certa, meus cabelos estavam ruins? Parecia cansado? Mas no final entendi que os britânicos não queriam dizer que tinha algo de errado comigo, eles só queriam me cumprimentar.
    Trabalhava numa UTI, lá na Inglaterra, e nós tínhamos também a função do suporte avançado de vida. Quando um paciente em qualquer lugar do hospital devia ser reanimado, um grupo de enfermeiros tinha que agir. Na Holanda nós chamamos essa coisa de ‘reanimar’. Mas no Inglês a palavra reanimar significa uma moça que faz uma dancinha para entreter homens. Quando a metade da equipe saiu do departamento para fazer um intervalo eu perguntei quem iria ‘reanimar’. Eles me responderam que eu podia fazer uma dança se eu quisesse.
    Quando eu era criança nós íamos todos os domingos ao culto de Igreja . Lá havia serviços específicos para crianças, Escola Dominical, organizada pelos pais, nós tínhamos aulas sobre a bíblia. Eles tentavam explicar coisas da bíblia, mas eles mesmos não entendiam todas coisas. No tempo bíblico, os judeus circuncisavam os homens e na bíblia tem uma história na qual eles começaram a fazer isso. Mas nenhum de nós sabia o que era isso. Em holandês a palavra ‘prepúcio’ (voorhuid) é um termo vago que parece como voorhoofd (a testa.) Quando uma das crianças perguntou o que era o prepúcio – o que devia ser retirado – uma das chefes respondeu sem falar mas só segurou a pele da testa – essa parte do rosto que contrai quando se franze - minha mãe – uma das chefes viu isso – sentiu-se envergonhada. Ela sabia o que significava na pratica, mas não tinha coragem de falar sobre cortar no membro dos homens. Um bom tempo nós tínhamos essa imagem dos judeus com as testas feridas, como os hindus que têm esse ponto colorido na testa.
    No passado, trabalhei num departamento no hospital que era judeu. Todas as regras judaicas eram obedecidas. Neste tempo eu fui informado sobre a circuncisão. Muitas dessas regras são iguais às regras dos muçulmanos. Por isso, ás vezes, uma pessoa muçulmana (bem rigorosa) queria ser internada naquele hospital. Uma vez uma mulher muçulmana tinha entrado no meu departamento, ela era originária da Arábia Saudita. Eu quis acolhê-la dando um aperto de mão. Ela só ficou olhando para minha mão estendida, mas não me respondeu. O irmão da paciente, me explicou que na Arábia homens não davam um aperto de mão às mulheres. Eu me senti muito ofendido, mas me dei conta de que a intenção dela não era má. Mas eu não fui mais capaz de olhar amavelmente para ela.

    ResponderExcluir
  2. Quando uma pessoa se encontra com uma outra pessoa que tem um passado diferente, eles têm que aprender a conhecer um ao outro. Isso ainda pode ser difícil mesmo se a cultura deles for igual, nem se fala de pessoas com passados culturais diferentes. Cada pessoa tem seu próprio quadro de referência, seu próprio jeito de pensar. O que é uma coisa totalmente normal para uma pessoa de uma cultura, pode ser um jeito superestranho para um outro. Há tribos na Papua-Nova Guiné onde os homens se cumprimentam por meio de acariciar o escroto do outro. Uma coisa que é para nós uma coisa esquisita, imagine!
    Uma coisa mais séria é a situação na qual se expressa a dor. Na cultura árabe quando alguém sofre dor, essa pessoa se expressa altamente. Todo mundo vai saber que ele está com dor. Esse comportamento é considerado exagero pelo enfermeiro holandês que vai ignorá-lo. Mas o paciente asiático geralmente sofre silenciosamente e não vai atrair a atenção, nem vai pedir analgésico. Nunca vou me esquecer do rosto sem comoção de uma mulher japonesa dando à luz, ao passo que antes uma mulher Judia tinha gritado muito histericamente nessa mesma situação.
    Cuidei de uma paciente etíope, ela era velha e não falava o holandês nem o Inglês. Cada vez que eu fazia alguma coisa com ela, ela falava baixinho ‘bakáh, bakáh’, mas não me olhava, não me empurrava. Parecia minha vovó que tinha uma colicazinha. Mas nunca soube o que ela queria dizer. A família dela não disse nada. Algum tempo depois encontrei um homem holandês que tinha morado na Etiópia e eu contei essa historinha sobre o que ela tinha falado. Ele me olhou com lagrimas nos olhos. ‘Bakáh’ é uma das palavras mais fortes que significa ‘dor’. A cultura etíope parece ser mais silenciosa do que a dos árabes. Eles também sofrem silenciosamente.

    ResponderExcluir